Green Corridors: da regulação global ao potencial brasileiro

O conceito de green corridors vem ganhando protagonismo no transporte marítimo internacional como um dos pilares para viabilizar a descarbonização da cadeia logística.

8/27/20252 min read

A large cargo ship docked at a dock
A large cargo ship docked at a dock

De acordo com a International Maritime Organization (IMO), o setor marítimo é responsável por cerca de 3% das emissões globais de CO₂ (IMO, 2023), e a meta estabelecida pela estratégia revisada em 2023 é alcançar a neutralidade de emissões por volta de 2050.

Para cumprir esse objetivo, é necessário criar rotas específicas que conectem portos preparados para abastecimento com combustíveis alternativos, infraestrutura de suporte e regulação alinhada, os chamados corredores verdes.

Na prática, um green corridor é uma rota marítima em que todos os elos da cadeia: armadores, portos, exportadores, governos e provedores de energia, estão comprometidos em reduzir drasticamente a pegada de carbono das operações.

Isso pode envolver o uso de combustíveis como metanol verde, hidrogênio líquido, biocombustíveis avançados ou até mesmo soluções híbridas que combinem eletrificação e eficiência energética.

Além da troca de combustível, a infraestrutura portuária precisa estar preparada para armazenar, abastecer e monitorar esses novos insumos, o que exige investimentos vultosos e cooperação internacional.

Casos concretos já estão em andamento. O corredor Cingapura–Los Angeles, com foco no uso de metanol verde, é um exemplo emblemático apoiado por grandes armadores como Maersk e CMA CGM. A rota Roterdã–Oslo vem testando embarcações elétricas e biocombustíveis avançados, enquanto Xangai–Ningbo explora soluções baseadas em hidrogênio líquido.

Essas iniciativas ainda enfrentam desafios de escala, já que os combustíveis alternativos representam atualmente menos de 0,5% da matriz energética marítima global.

O Brasil tem condições singulares para inserir-se nesse cenário. Com uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, mais de 80% baseada em fontes renováveis segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética, 2024) e portos estratégicos próximos a rotas de exportação de commodities, o país pode se posicionar como um hub de abastecimento sustentável.

A abundância de biomassa e potencial para produção de hidrogênio verde em larga escala reforçam essa vantagem. Se bem estruturado, um corredor verde ligando portos brasileiros a mercados exigentes, como União Europeia e Ásia, pode não apenas reduzir emissões, mas também gerar vantagem competitiva para exportadores diante de regulamentações como o CBAM (Carbon Border Adjustment Mechanism) da União Europeia, que passa a taxar emissões incorporadas em produtos importados.

O desafio, contudo, não é apenas tecnológico ou logístico. Ele envolve coordenação multissetorial: governos precisam alinhar regulações e incentivos, armadores devem investir em novas frotas, portos necessitam de adaptação de infraestrutura e exportadores precisam se preparar para cadeias de suprimento mais transparentes em carbono.

Experiências internacionais mostram que sem compromissos claros e acordos de longo prazo, os corredores verdes não avançam na velocidade necessária.

No cenário atual, pensar em green corridors é mais do que uma tendência: é um movimento estratégico que definirá a competitividade de países e empresas no comércio marítimo. Para o Brasil, a janela de oportunidade está aberta — seja para liderar rotas de baixo carbono no Atlântico, seja para tornar seus portos hubs de abastecimento sustentável.

Estar preparado para essa transformação significa não apenas atender a pressões regulatórias, mas também capturar valor em um mercado global cada vez mais sensível às práticas ESG.